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11/07/2023

A minha motivação para correr o Desafio Cidade Maravilhosa 2023.

Fala corredor, Relatos

Por Esetavão Zanatta.

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Esse ano meu textão motivacional sobre a maratona vai mais cedo (e não no final do ano, como fiz em 2019).

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A minha última prova oficial com seus 42.195m foi em agosto de 2019.

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Em setembro do mesmo ano, tive a oportunidade de correr onde a lenda começou: Sim! Na Grécia! Assim como a tradição da saga de Filipi até Atenas no Monte da Vitória. Corri apenas 8km, em boa companhia.

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Em 2020, estava inscrito nas mesmas provas que estive em 2023, porém não corri nenhuma delas, curiosamente era o meu auge no preparo físico. Chamo isso do retorno que a pandemia me deu, depois de tirar tanto de muita gente.

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Em janeiro de 2021, eu e minha esposa resolvemos ter um neném e em fevereiro já estávamos grávidos da Sabrina. Eu reduzi os treinos e tempo de exercícios, pois li em vários artigos que atividade em excesso poderia reduzir a fecundidade. Depois de engravidados, passei a fazer companhia para a gestante, então os treinos foram cada vez menores em duração, nunca passando de uma hora. Com três meses tivemos um hematoma no útero, o que deixou minha esposa de cama por 60 dias.  Em novembro, dia 13, nasceu a Sabrina!

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Sabrina nasceu com uma displasia bilateral de quadril. Tínhamos um prognóstico de cura em três meses, e nesse tempo, uma das pernas ficou alinhada, mas a outra passou para um prognóstico de seis meses, e, em seguida, para uma operação complexa que veio a ocorrer apenas em janeiro deste ano.

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Em resumo, 2022 foi um ano que definitivamente não corri muito, sempre na expectativa de resolver logo a questão da perninha da Sabrina. Em outubro quando o tratamento cirúrgico era a última alternativa e não fugiríamos desse caminho, eu me inscrevi no Desafio Cidade Maravilhosa.

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Parece incrível, mas o tratamento cirúrgico tem um tempo de recuperação muito padronizado e isso permitiu fazer uma previsão das coisas. Essa operação tardia foi extremamente calculada pelo cirurgião, e, agora depois que tudo passou, temos a certeza de que devido a extensão do procedimento, ele ocorreu no tempo certo. A cirurgia sofreu um cancelamento inicial (era para ocorrer em dezembro e acabou ocorrendo na segunda quinzena de janeiro). Foram 56 dias de gesso e depois mais 30 dias de órteses.

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Treinos estavam resumidos ao mínimo possível, duas a três vezes por semana, não mais que 10km por treino. Lembro de escrever e responder meu treinador Sidnei Rodrigo, pedindo para ele não desistir de mim, que faltavam poucos dias para a Sabrina tirar o gesso e que tinha uma expectativa das coisas melhorarem um pouco.

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Consegui voltar a rprogredir o volume de treinos no final de março. Faltavam dois meses para o Desafio Cidade Maravilhosa no Rio e ainda não tinha feito treinos com mais de 18km nesse período, muito menos, treinos em dias consecutivos. Eu já tinha experiência com maratona, tinha a exata certeza de que dois meses e alguns dias não seriam suficientes. Talvez um ponto positivo foi que, nesse tempo todo, não deixei de fazer fortalecimento muscular. A Sabrina tirou o gesso, tirou a órtese e entrou para a escolinha. Em paralelo, eu já estava cumprindo a planilha de treino.

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Bom, agora vou para a prova! A logística da viagem foi excelente. Na prova de 21km, no sábado, parecia que estava correndo a Volta da Pampulha, no quintal de casa. Segurei muito o pace na meia maratona, correndo mais lento do que eu poderia, me poupando para os 42km de domingo. Fiz um bom tempo nessa condição: 1h56min.

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Não me lembro de ter ficado ofegante em algum momento. Foi tão tranquilo que relaxei com hidratação no pós prova, não tomei sal, demorei para tomar água, e quando tomei, tomei muito, além de não tomar meu café diurético pós treino. Paguei o preço da displicência no domingo.

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Provavelmente super hidratado com um pouco de água retida pela quantidade que tomei no dia anterior, durante a maratona, até o km 14 eu parei três vezes para urinar. Várias coisas passaram pela cabeça… Parei três vezes em uma maratona para enfrentar fila de banheiro quimico (estava com a camisa da assessoria e não queria ser registrado urinando na rua, né…). Deixei o relógio rodando em todas as paradas, como o tempo ainda estava bom, consegui colocar a cabeça no lugar e focar nas metas que crio para aumentar a velocidade entre os quilometros.

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A primeira meta era no km 24, onde em uma corrida passada machuquei o joelho. Passei pelo km 24, foquei que ali faltava apenas uma volta na Pampulha, meu local de treino habitual. Passei a contar os quilômetros menos 18 e assim por diante. No km 28 (ou menos 14km), aconteceu um fato novo para mim em maratonas. Ninguém mais me ultrapassava! Eu estava no pace de 6’00″/km, tranquilo sem forçar e ia passando as pessoas.

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Me dei conta que estava muito inteiro, que mesmo ficando um pouco para trás pelas paradas no banheiro daria para administrar bem os últimos 14km. Me diverti muito nesse trecho da corrida. Fiquei observando as pessoas, as que eu passava, os que vinham no sentido oposto, as torcidas, as assessorias e os atletas que estavam no mesmo pace.  Realmente não me recordo de correr nesse estado de relaxamento com uma distância tão longa.

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No km 36, quando acaba a praia e começam os dois tuneis tomei minha última suplementação. O relaxamento acabou e passei a ficar preocupado. Estava tudo tão tranquilo que alguma coisa tinha que estar errada. Senti uma leve fadiga no posterior da coxa direita (que eu tinha já sentido em um treino de maio). Minha primeira providência foi mudar o gesto da minha passada para administrar. E assim foi: puxando a perna um pouquinho para não sentir nada, doando água que tinha para quem estava ao entorno precisando e ainda troquei algumas palavras de incentivo com quem estava pelo caminho. Fiz questão de apertar um pouco nos últimos 500m. Cheguei! Cheguei bem, junto com outros dois atletas que estavam também fazendo o Desafio e com o tempo bem próximo do meu.

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Passei na estrutura de apoio da assessoria para agradecer ao time da BHRace, peguei minha medalha e fui para a praia encontrar Marilia e Sabrina.

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Depois, nesse mesmo dia, saímos para dar uma volta no calçadão e depois jantar. Fiquei pensando na quantidade de gente que apoiou para eu conseguir fazer essa prova. Marilia sempre acreditou que dava. Eu já com experiencia de maratona, achava que 60 dias sem correr, meses antes da prova não iriam ser suficientes. Acho que ela acreditou bem mais que eu que daria para fazer o Desafio.

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Sidnei, meu treinador, o cara foda, que só tem postagem de corrida foda, que só tem aluno foda (com pace abaixo de 5’00″/km… kkk), que é um exemplo de corpo perfeito em sintonia com o exercício e que toma café sem açúcar, também acreditou que era possível.

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Meu Tio Beto, grande incentivador, que foi quem me fez voltar a praticar exercício físico. Adminstrador em multinacional, ele sabe o que é essa coisa de empresa e tempo para fazer as coisas. Nesse aspecto esportivo, minha família é bem dividida. Uma parte sempre esteve voltada para atividades físicas – a turma acompanhava todos os giros de ciclismo pelo mundo, (sim, tivemos um outro tio muito envolvido com ciclismo), futebols e, acreditem, até golf (eu sei as regras e sei jogar, não melhor que meu primo Ricardo). A outra parte da família torce e dá apoio.

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Manter essa tradição de correr, ser exemplo, e competir é o melhor legado que posso deixar, e todas essas pessoas que me ajudaram a concluir o Desafio, contribuem muito nessa ideia.

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Conheço umas dez pessoas que fizeram a mesma coisa que eu, cada uma com suas dores e conquistas, a grande maioria muito mais rápida que eu. Eu não quero ter um tempo de corredor profissional. Longe disso… Eu quero ter tempo de amador, continuar fazendo coisas de amador, correr, chegar inteiro e vida que segue. Dar voltinha com a Sabrina e a Marilia depois da prova, tomar café, sorvete, sundae e aproveitar para turistar no local da prova. Meu treinador iria arrepiar ouvindo isso (rsrs).

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Esse ano deu certo por três fatores: o apoio da Marilia (e da Sabrina, que ainda sem consciência, dormiu a noite inteira nos dias de prova), a prescrição de treinamento com o Sidnei e a mim (que aproveitei o apoio da família e segui as orientações do treinador)!

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Fiz o Desadio Cidade Maravilhosa 21km + 42km, em 6h15min (descontando tempo de fila de banheiro). Cheguei inteiro, sem lesão, sem machucar, sem nenhuma ressalva cardiovascular e aproveitei o restante do dia na praia.

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Outra parte legal dessa corrida, talvez a mais importante: Sabrina voltou andando do Rio!!! Sim, aqueles saltos de desenvolvimento que ouvimos falar, aconteceu lá. O flat que estávamos era muito amplo ajudou demais nisso! Somando tudo, foi um resultado extraordinário para essa que seria apenas mais uma prova daquelas legais de correr. Foi um final de semana extraordinário, onde várias pessoas ajudaram para esse sucesso!

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Estevão Zanatta

Atleta BHRace desde 2019.

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