Blog

11/10/2018

Entenda o papel do “Coelho” em provas de corrida de rua

Post da Nagai, Sem categoria

.

Coelho é um corredor contratado oficialmente pela organização ou (não-oficialmente) por um atleta competidor, para ditar o ritmo de prova e também para minimizar o arraste decorrente da resistência do vento, permitindo uma economia de energia de quem de trás.

.

Organizações de provas costumam pagar para os Coelhos – também conhecidos como Pacemakers, Pacesetters ou Rabbits – para contribuírem com uma prova mais veloz com potencial quebra de recorde mundial.

.

Assim se evita provas excessivamente táticas e conservadoras, ou seja, mais lentas e menos interessantes ao público.

.

Estes atletas na maioria das vezes são convidados e recebem cachê, que pode ser de  US$ 1.000 por exemplo.

.

Na transmissão de eventos de atletismo, os pacers estão uniformizados e identificados no número de peito.

.

Por regra é exigido que cumpram uma distância que pode ser de 21, 25 ou alguns casos 28 km em provas com distância de 42,195 km (maratona).

.

Em provas em pista de atletismo, os pacers largam na frente, acompanham nas primeiras voltas e no final, é possível ver eles se retirarem da prova.

.

Após o congresso técnico de uma maratona, realizado apenas com atletas de elite, os próprios atletas solicitam que os coelhos puxem a prova para terminar a primeira metade (21k) em por exemplo, 61 minutos ou 60 minutos como Kipchoge pediu em Berlim.

.

Coelhos em ação na Maratona de Londres 2017.

.

Ainda há muita discussão sobre o benefício citado de economia de energia, mas o fato é que no Nike Breaking2, Kipchoge correu todo tempo “protegido” numa formação de pacers para justamente diminuir a resistência gerada pelos ventos.

.

Breaking 2 na pista F1 de Monza – Revezamento de Coelhos a frente de Kipchoge (em vermelho).

.

.

As organizações das provas são favoráveis ao uso de Coelhos?

.

Algumas organizações julgam que é de competência do atleta a estratégia de ritmo de prova e que os atletas acabam seguindo os Pacers para tentativa de recorde sem focar no objetivo de vitória.

.

Outras contratam os Pacers para garantir provas velozes e assim conseguirem televisionar um evento interessante ao público.

.

A maratona de Londres voltou a permitir pacer homens para puxar a elite feminina e estimular um quebra de recorde.

.

Exemplos de eventos com e sem Pacers:

  • Maratonas com pacers: Londres, Berlim, Chicago, etc.
  • Maratonas sem pacers: Boston, Nova York, Olimpíadas, Mundial de atletismo, etc.

.

.

Pacers femininos em maratonas “women’s only”

.

A britânica Paula Radcliffe detém o recorde mundial em maratona de 2:15:25 (Londres 2003) numa era em que as atletas podiam ser acompanhadas por “coelhos homens”.

.

A britânica Paula Radclife ao bater o recorde mundial da maratona.

.

Hoje, a detentora do recorde de prova somente com mulheres como Pacers é Mary Keitany com 2:17:01 (Londres 2017).

.

A Federação internacional de atletismo (IAAF) declarou em 2011 que recordes femininos só seriam considerados se conquistados em provas exclusivamente de mulheres, ou seja, sem contribuição de homens para puxar o ritmo.

.

Esta regra gerou controvérsia por ser definida uma retroatividade na aplicação desta e por opiniões divergentes da contribuição dos homens, que poderia gerar um ambiente artificial.

.

Após contestação de Paula, o título de recorde lhe foi novamente atribuído, porém hoje são válidos os dois recordes.

.

.

Vitórias de Coelhos

.

Alguns casos de eventos em que o Coelho não se retirou da prova e venceu!

.

Reims Marathon em 1994

.

Coelho: Vanderlei Cordeiro de Lima, Maratona em 2:11:06 (depoimentos do atleta indicam que a vitória foi por uma larga vantagem)

Nota: Estreia do atleta na distância, era previsto que ele permanecesse até metade da prova

.

Vanderlei ganhou inesperadamente como coelho sua primeira maratona, chegando neste momento de maior projeção ao ser agarrado pelo padre irlandês (Olimpíadas de Atenas)

.

Los Angeles Marathon em 1994 

.

Coelho: Paul Pilkington, Maratona em 2:12:13 (39” a frente de Luca Barzaghi da Itália). Prêmio de US$ 6.000*

*US$ 3.000 (cachê para pacer) e 3.000 (vitória)

.

Nota: Luca celebrou sua chegada pensando que era o vencedor, não viu Paul, tamanha era a distância entre eles. Após a prova, ele acusou a organização da prova de informar que o coelho sairia no km 25.

.

Paul Pilkington, coelho profissional.

.

Berlin Marathon em 2000

.

Coelho: Simon Biwott, Maratona em 2:07:42

Nota: O favorito Fabián Roncero abandonou esta prova por lesão muscular.

.–

Pittsburgh Marathon em 2011 

.

Coelho: Jeffrey Eggleston (26 anos, EUA), Maratona em 2:16:40 (29” à frente de David Rutoh do Quênia). Prêmio total de US$ 9.000**

**US$ 1.000 (cachê para pacer), 6.500 (vitória), 1.500 (qualificação para Olimpíadas)

.

Olomouc Half Marathon em 2014 

.

Coelho: Geoffrey Ronoh, Meia maratona em 1:00:17 (8” à frente de Wilson Kipsang do Quênia). Prêmio total de 4000 (vitória e sub 1:01)

Nota: É o Companheiro de treino de Kipsang

.

O ex-recordista da maratona Wilson Kipsang e seu amigo Pacer.

.

.

Vida de Coelho

.

Ser Coelho em uma prova se justifica principalmente pela recompensa paga pelos organizadores, que pode ser superior ao prêmio do atleta que termina entre os 10 primeiros.

.

Os diretores de prova sabem o quanto é difícil encontrar Coelhos no nível requerido para puxar uma maratona com elenco de atletas em alto nível até 25 km.

.

Maratonistas de elite que correm sub 2h05min fazem os primeiros 21km na base de 1h01-1h04.

.

Em algumas maratonas, os Coelhos abandonam a prova antes da distância combinada (fazendo 15 km apenas, ao invés de 25 km) ou não são capazes de manter o ritmo acordado, chegando a levar bronca de atletas como Kipchoge ou Mo Farah.

.

Obviamente como atleta que ama o esporte, que pratica e sente que está muito bem no dia, é muito difícil ditar o ritmo e abandonar o evento.

.

Tanto é que citamos alguns casos de coelhos que vencem a prova como Vanderlei Cordeiro, que vendo que estava bem e pensando na logística para retornar ao hotel, decide se manter até o final da maratona de Reims.

.

Neste último caso, ser coelho permitiu que o atleta descobrisse a distância para qual tinha mais potencial.

.

Em outros casos, ser coelho é ser um coadjuvante na conquista de outros atletas e com risco ainda de ser responsabilizado por um desempenho abaixo do esperado pelo corredor principal.

.

.

Compartilhe:

Receber comentários por email
Avise-me de
guest
1 Comentário
mais antigos
mais novos mais votados
Inline Feedbacks
View all comments
Pedro
Pedro
4 anos atrás

Interessante e esclarecedor

Vamos Treinar?

Conheça o treinamento online BHRace. Corra onde e quando quiser, com orientação profissional.