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01/05/2018

Como a corrida afeta nosso sistema imunológico

Coluna do treinador, Iuri Lage

Se você já correu uma maratona, sabe que o esforço extenuante deixam as pernas doloridas, as unhas pretas e o corpo propenso a resfriados, certo?

Mais ou menos… Segundo a nova revisão científica sobre imunidade e exercícios de endurance, correr longas distância não reduz as células de defesa do nosso corpo.

A revisão afirma que, ao contrário da crença generalizada, um treino ou corrida longa e cansativa pode ampliar as respostas imunes, e não suprimi-las.

Durante décadas, a maioria dos pesquisadores, treinadores e atletas se convenceram de que uma única corrida longa e difícil pode deixar o corpo tão fadigado que ele se torna incapaz de combater vírus e outros microrganismo que causam infecções.

Desde a década de 80, vários estudos em corredores de maratonas e ultramaratonas relataram o desenvolvimento de resfriados nos dias e semanas imediatamente após a corrida. Sua incidência de doenças era muito maior do que entre os membros da família que não correram ou a população em geral.

Com essas descobertas como pano de fundo, outros cientistas começaram a analisar o funcionamento do sistema imunológico dos atletas durante e após as corridas.

Os estudos mostraram que durante uma maratona, por exemplo, as células imunológicas aumentaram na corrente sanguínea dos atletas, porém poucas horas depois os números dessas células imunes  caíam para níveis bem inferiores aos anteriores a prova.

Os cientistas interpretaram que o esforço físico dos corredores mataram um grande número de células imunológicas e criaram o que alguns pesquisadores apelidaram de “janela aberta” de imunossupressão que poderia permitir que vírus oportunistas se infiltrassem, sem dificuldade.

Essa ideia desde então tornou-se um conceito definido e “intocável” na ciência do exercício.

 

Não faz sentindo no ponto de vista evolucionário

Mas, recentemente, pesquisadores de saúde da Universidade de Bath, na Inglaterra, se mostraram céticos. Segundo eles,do ponto de vista evolucionário, supressão imunológica após exercício extenuante fazia pouco sentido.

Afinal, nossos antepassados muitas vezes tinham que perseguir presas ou fugir de predadores fazendo dessa forma exercícios extenuantes e possivelmente com pequenos ou grandes ferimentos.

Se tivessem uma resposta imunológica enfraquecida ao mesmo tempo, muito provavelmente não estaríamos aqui.

Os pesquisadores também suspeitaram que as técnicas científicas desenvolvidas para os estudos na década de 1980 não eram tão eficientes.

Assim, para a nova revisão, que foi publicada mês passado na Frontiers in Immunology, eles reuniram e analisaram uma ampla variedade de pesquisas recentes e usaram essas descobertas para reconsiderar o que o exercício faz à imunidade no curto prazo.

 

Corredores não sabem quando estão resfriados

Sua primeira conclusão foi que os atletas são péssimos em identificar se estão ou não resfriados (isso é engraçado!). Os estudos originais dos anos 80 haviam se baseado em auto-relatos de doenças em corredores.

Experimentos mais novos que testaram a saliva mostraram que menos de um terço dos corredores de maratona que achavam que haviam pegado um resfriado na verdade não estavam resfriados.

Estatisticamente, suas chances de adoecer eram as mesmas de qualquer outra pessoa da cidade sede onde aconteceu a corrida.

Os atletas provavelmente interpretaram alergias ou arranhões em suas vias aéreas após a corrida como um resfriado, diz John Campbell, professor da Universidade de Bath que foi co-autor da nova revisão.

Estudos em ratos

Enquanto isso, os pesquisadores descobriram que novos estudos tecnicamente sofisticados usando animais confrontam o dogma sobre exercício e imunidade.

Nestes estudos, as células de defesa de ratos foram tingidas, permitindo aos cientistas acompanhar a sua localização.

Quando os ratos correram, muitas das células saíram de vários tecidos e entraram na corrente sanguínea, como acontece nas pessoas.

Mas depois do exercício, essas células não morreram em grande número. Em vez disso, o rastreamento revelou que elas se mudaram para outro lugar, migrando para áreas do corpo que poderiam precisar de ajuda extra do sistema imunológico depois de exercícios intensos, como o pulmão por exemplo.

Algumas células do sistema imunológico também fluíram para a medula óssea, onde se pensou que elas estimulassem células-tronco especializadas a criar células imunes adicionais.

Resumindo, os sistemas imunológicos dos roedores reforçaram suas defesas em áreas vulneráveis ??do corpo após o exercício, redirecionando as células do sangue.

Se as mesmas migrações ocorrem dentro de nós ainda não sabemos. “O rastreamento ao vivo de células do sistema imunológico após o exercício não foi feito em pessoas”, diz James Turner, co-autor da revisão e também professor da Universidade de Bath.

Mas ele e o Dr. Campbell suspeitam que esse cenário explicaria como os níveis das células imunes no sangue dos maratonistas voltam ao normal dentro de 24 horas após a corrida.

“O corpo não pode substituir as células tão rapidamente”, diz Turner. Então eles devem retornar ao sangue de outro lugar.

Ele e o Dr. Campbell esperam que as futuras experiências sigam as células imunitárias de atletas humanos após o exercício e acompanhem como elas influenciam a saúde.

De toda forma, essa revisão serve para nos deixar alerta em relação ao conceito até então inquestionável sobre exercícios extenuantes e sistema imunológico.

“As pessoas não devem deixar de correr por medo de suprimir o sistema imunológico”, diz Campbell. “O exercício é bom para a defesa do organismo”.

Fonte: Gretchen Reynolds – The New York Times

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