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14/12/2012

Volta da Pampulha – orgasmo em praça pública

Relatos

Por Alberto Grossi

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Quando corria os últimos quilômetros da Volta Internacional da Lagoa da Pampulha fiquei pensando em tudo que senti antes, durante e no que estava prestes a sentir quando estivesse atravessando a linha de chegada. E por incrível que pareça, encontrei um amigo esperando pela minha chegada, no pé daquela fatídica subida. Ele caminhou comigo até a linha da chegada e neste pequeno percurso ele me perguntou o que eu estava sentindo naquele momento. Então eu disse: a corrida proporciona muitas emoções que se misturam e se contradizem.

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À medida que os dias passavam e a corrida se aproximava, fui ficando excitado, falando diariamente com os colegas, postando mensagens sobre a corrida, sobre os quenianos que eu iria bater, etc. Os treinos intensos geraram muitas reclamações do meu organismo e uma pergunta vinha constantemente à tona: será que conseguirei correr os 18km?

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No dia da corrida, aqueles momentos que antecedem a partida nos quais ficamos conversando, buscando a concentração, caminhando pelo grid de largada, aquecendo e alongando são muito excitantes. Era pura adrenalina!

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Andei para um lado andei para o outro até que a partida acontecesse. Foi dada a largada e por estratégia, parti bem atrás, pois à medida que ia ultrapassando corredores mais lentos, tinha a sensação de que estava bem, firme e forte, isto é um aspecto psicológico positivo. Vendo aquela multidão de corredores trotando na mesma direção, formando uma grande procissão me lembrei da planície do Seringuete na África, quando os milhares Guinus correndo freneticamente fazem a migração para outra região em busca de alimento. Começava ali uma saga. Começava ali a realização de milhares de sonhos.

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O tempo ia passando e já completava 5km corridos e a vontade de me mergulhar num copo de água se tornou grande. O banhozinho que tomei quando despejei um copo de água na cabeça era extremamente revitalizador. Eu fiquei novo para mais alguns quilômetros. Evitava olhar para frente e ver aqueles corredores mal educados correndo a 20km/h bem à frente.

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Estava no quilometro 10 quando comecei a ter os primeiros sintomas de sofrimento. Mudava meus pensamentos a todo instante, me ligava na música da radio que escutava, alterava a minha meta frequentemente acrescentando sempre mais 1km antes de dar uma paradinha para aliviar algumas dores e buscar mais oxigênio.

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Passava por mais alguns corredores sem perfil atlético e idosos e continuava achando que ainda estava bem. Avançava mais um pouco já com bastante sofrimento com dores aqui e ali e ritmo irregular. Já começava a correr 500 metros e andar 50 metros para descansar. Ficava feliz com cada metro avançado.

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Alcançava ali o quilômetro 14, quase 15. Começava a perder posições para aqueles que deixei para trás. Ficava aborrecido e logo voltava a correr para recuperar minha posição. Essa luta incessante com pequenas derrotas parando para descansar e vitórias vencendo as metas impostas e ultrapassagens a cada instante me alimentavam durante o percurso. As sensações sentidas eram muito confusas.

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Misturavam-se a ansiedade, a excitação, o desespero, o medo, o cansaço, o prazer, a força de superação, a fraqueza, a tristeza e a alegria. Estávamos avançando e nossos olhos já alcançavam o gate de chegada.

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Derrotado por uma câimbra sistemática na panturrilha a partir do km 16, já não corria mais, apenas caminhava. Caminhava com dificuldades quando encontrei um amigo no pé da subida. Um aperto de mãos e uma palavra de apoio foram suficientes para eu transpor o trecho final de subida.

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Passei pelo gate de chegada. Foram 2:30 h de desafios. Que bom, venci os 18km. Venci o meu medo e as minhas fraquezas. Descobri novos limites. Quanto prazer, quanta satisfação! Um orgasmo em praça pública.

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Alberto Grossi

Atleta BHRace

Dezembro de 2012

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Vinicius
Vinicius
11 anos atrás

Alberto, muito bom ler seu relato aqui, parceiro. Faço aqui uma proposta e um desafio: o de ano que vem, cruzarmos juntos novamente a linha de chegada, mas desta vez, tendo ambos corrido todos os 18 km do percurso!
Topas?!

Cláudio Fernando Monteiro
Cláudio Fernando Monteiro
11 anos atrás

Olá ALbertinho, muito legal seu texto.
Realmente é uma experiência única e sensacional. Um vitória. Seus e-mails no período que antecedeu à prova foram muito importantes para mim. Venci as dores do joelho e a insegurança.
Legal. Ano que vem tem mais…muitas provas…vitórias e dores…mas alegria e satisfação de lutar e vencer nossos próprios limites.
Como lhe disse, você vai fazer falta.
Não desapareça…mantenha contato.

Um grande abraço.

Cláudio Monteiro

Anônimo
Anônimo
11 anos atrás

Alberto, Parbéns pela conquista, pela superação! Caminhar não é uma derrota, é uma estratégia e no fim todos somos vencedores, a medalha é a mesma pros que chegam primeiro e pros que vêm depois! rsrs
Leticia

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