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20/07/2018

Marcos Albuquerque – O corredor com mais de 200 provas

Entrevistas

Muito antes do “boom” das corridas de rua, dos relógios com GPS e dos caríssimos tênis de “running” já existiam corredores incríveis apaixonados pelo esporte treinando com acessórios para muitos inimagináveis nos dias de hoje.

Um deles é o Belo Horizontino Marcos Albuquerque, hoje com 61 anos, mais de 200 provas no currículo e muitos (muitos) quilômetros rodados!

Nosso coordenador técnico Fillipe Biacardi ficou tão encantado com as histórias dessa lenda, que não pensou duas vezes em fazer uma entrevista para publicarmos aqui no Blog da BHRace:

 

Fillipe – Marcos, conta um pouco como e quando você começou a treinar corrida de rua.

Marcos – “Comecei a treinar corrida de rua por falta de opção de esporte para praticar.

Quando me formei em engenharia, em 1980, fui e residir em Varginha/MG. Era praticante de futebol de salão e não conseguia me tornar sócio de nenhum clube na cidade.

Comecei a fazer um curso para obter “brevê de piloto de aviões”, tendo conseguido com o presidente do aeroclube que havia na cidade, uma autorização para correr na área do aeroporto.

Comecei com 12 minutos por sessão de corrida, duas vezes por semana, usando o material esportivo que eu tinha de futebol de salão.

Com o meu retorno para BH, depois de um ano e meio morando em Varginha/MG, ganhei da minha então noiva (minha esposa desde 1984) um par de tênis de corrida, que me incentivou a continuar na pratica da corrida, dessa vez na Praça da Assembléia, com três sessões semanais, já conseguindo 7,0 km em cada uma delas.

Na praça da Assembléia conheci um corredor, que mais tarde descobri ser muito habilidoso, que se chama Antônio Augusto Almeida Coelho (não o vejo já há muito tempo).

O Toninho me apresentou ao meu primeiro treinador (Fernando Maia), que me levou para treinar no DI da  Polícia Militar de MG, junto com o pessoal de uma equipe que se chamava “Geraldo Profeta da Luz”.

O “Seu Profeta” foi o treinador do João da Mata quando este ganhou a corrida de São Silvestre.

O nome da equipe era em homenagem ao “Seu Profeta”.

Estando no DI, me aproximei dos atletas da PMMG, na época uma equipe com grandes corredores (Tomix da Costa, João da Mata, Omar Paulo dos Santos, entre outros), além de abrir caminho a tantos outros com quem tive oportunidade de conviver (Wander do Prado Moura, Uilia Pires, João Batista Pacau, Maria Domiciano Gomes, Sérgio Cordeiro, Hudson Ferreira Lemos, José de Baltar, João da Mata, Roberto Márcio Vieira, Cláudio Zuccolo e outros atletas da minha época, que irão me perdoar por não tê-los citado, muitos campeões panamericanos e sulamericanos em pista e rua.

Comecei a competir regularmente, em corridas de até 10km (achava um absurdo a meia maratona), vindo a fazer parte de várias equipes (Pé de Vento – equipe do bairro Nova Vista, Locmafe, Embratel, Atlético, etc.), com tempos razoáveis que me incentivavam a continuar treinando.

Me atrevi a participar da equipe da Embratel, onde trabalhava na época, tendo participado do circuito carioca de corridas de rua em 1989, tendo me sagrado medalha de bronze no ranking interno da Embratel/Telerj, atrás apenas de um colega, também de BH, que se chama Rafael Arcanjo (vice campeão) e do Sérgio Cordeiro (ultramaratonista bastante divulgado pela Globo).

A Embratel possuía no seu quadro de funcionários ótimos corredores, a destacar um colega gaúcho de nome Adão Camões, que foi o vencedor da primeira maratona de Porto Alegre.

Fui melhorando os meus tempos e naturalmente conhecendo gente da corrida pelo país afora.

Tive grande proximidade com o saudoso Airton Ferreira, baiano, durante muito tempo colunista na Revista Contra Relógio, que é autor de livros que ajudaram muita gente no início do movimento das corridas no Brasil (Maratona e a Mulher na Corrida, que com algum esforço ainda podem ser encontrados em sebos).

Chegar à Maratona, a rainha das corridas, foi questão de tempo.

Fui levado à maratona por um corredor que conheci em 1991, que se tornou um grande amigo e a quem tive como parceiro diário de treinos por muitos anos, chamado Charles Versieux.

Competimos juntos por quase todo o Brasil.

Como parceiros de treino, destaco ainda Antônio Edélcio dos Santos, maratonista sub 2:30h e aquele que me trouxe ao mundo das corridas, o Toninho, com várias corridas de 10km na casa de 30 min no seu currículum.

 

Fillipe – Você comentou em outra conversa que existia preconceito com corredores de rua em sua época. Me fale um pouco sobre isso:

Marcos – Havia em BH muito preconceito com os corredores (como viajava muito para o Rio e São Paulo, não percebia o mesmo preconceito nestas cidades.

Em BH éramos vistos como lunáticos e constantemente chamados de vagabundos ou outros adjetivos do gênero.

Eram poucas as mulheres que praticavam a corrida.

Preferíamos, para evitar problemas, treinar, mesmo nos fins de semana, em locais ermos (Serra do Curral, Retiro das Pedras, Lagoa dos Ingleses (não havia o condomínio), Jardim Canadá (ainda não habitado), Ferrovia do Aço, Bosque do campus da UFMG, Seis Pistas (tinha realmente seis pistas e nenhuma construção), Belvedere (não possuía prédios) ou em plena madrugada.

 

Fillipe – Conta um pouco sobre a importância de ter um treinador de corrida e do suporte que você teve quando treinava. Como era passado o treinamento?

Antes do meu primeiro treinador (tive três na minha vida atlética – Fernando Maia, Adriano Maron e Roberto Márcio Vieira), me enfiava nos livros para tentar fazer o certo (Guia completo de corrida – Best Seeler do escritor americano James Fixx; Maratona – do amigo e saudoso Airton Ferreira da Silva) além de assinar a Revista Viva (editada na época na cidade do Rio de Janeiro).

Com os treinadores, com quem me encontrava pessoalmente pelo menos uma vez por semana, passei a fazer treinamentos em pista, exercícios educativos também nas pistas de atletismo e a periodizar o treinamento visando as competições que mais nos interessavam nas temporadas, com consequente melhora nos meus tempos.

Com os treinadores, deixei de ser um corredor de 38 min nos 10km, vindo para sub 33 min e a me habilitar para as maratonas.

Fillipe – Sabemos que na sua época a musculação e o trabalho de prevenção de lesão não era tão utilizado, isso te prejudicou?

 Marcos – Era praticamente um dogma entre os corredores e treinadores não frequentar academias e coisas do gênero.

Para correr melhor, achávamos que tínhamos que ficar a maior quantidade de tempo possível “sobre as pernas”.

O tempo que eu dispendia semanalmente em treinos, compartilhado com a minha profissão e outros afazeres, nunca era inferior a 10 horas, com distâncias chegando a até 180km (normal era 120km) por semana no pico de treinamentos para maratonas.

A falta de exercícios de fortalecimento e alongamento me custou o afastamento prematuro da prática da corrida, parte devido ao encurtamento de músculos posteriores, quando passei dos 40 anos de idade, tive diversas contusões musculares sérias.

 

Fillipe – Qual era a distancia em que mais gostava de competir?

Marcos – “Embora gostasse das competições de 10 e 5 km (que acredito ter participado de mais de 200 provas), as maratonas sempre foram para mim as provas rainhas.

Desde a primeira, ocorrida em 1991, com o tempo de 2h 54 min, tomei gosto pelas maratonas.

Completei 15 ao longo da minha vida de corredor, com o melhor tempo oficial de 2h 44min (Blumenau) e o pior aqui na nossa terra (BH), com 2h 57 min.

Não tinha apreço pelas meia maratonas.

Fillipe – Quais são seus recordes pessoais?

Marcos – Os meus melhores tempos são:

  • 5km – 16 min e 12 seg (Petrópolis);
  • 10km – 32 min e 29 seg (BH);
  • 15km – 48 min e 40 seg (Petrópolis);
  • Volta da Lagoa da Pampulha – 1h 04 min;
  • 1/2 maratona – 1h 18 min (BH);
  • Maratona –  2h 44 min (tenho tempo em maratona não oficial de 2h 39 min);

 

Fillipe – O que você diria para quem esta começando a treinar a corrida?

Marcos

  • Gaste com bom material para não gastar com médicos
  • Seja disciplinado com o plano de treinos que o treinador te passar;
  • Procure ter companheiros de treino com quem você se identifique;
  • Os amigos feitos na corrida são para sempre;
  • Procure ler sobre corrida. Motiva e te mantém bem informado;
  • Não há nada melhor que treinar na terra. Não perca a oportunidade de trocar o asfalto pela terra; 
  • Quilômetros hoje se converterão em anos de vida amanhã.

 

 

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