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07/06/2018

Mais uma corrida – Relato Myriam Haas

Fala corredor, Mulher, Relatos

O despertador tocou 5:15 da manhã e eu logo fui levantando sem pensar.

O horário estava justíssimo e como minha carona passaria 6 horas em ponto, fazer hora na cama seria perigoso.

Minha amiga que iria me dar carona é como eu: cumpre os horários combinados e gosta de chegar cedo nos eventos.

Meu filho e minha irmã que iriam participar também se recusaram a ir tão cedo comigo.

Roupa separada, tênis escolhido , relógio programado com o tempo de corrida e caminhada, sacola pronta e tudo perfeitamente em ordem.

Dez minutos pra trocar de roupa, dez pro banheiro, quinze pro café e dez pra dente e cabelo. O resto era lucro.

Só que eu não estava na minha melhor performance. Passei a semana com uma infecção urinária que me deixou muito debilitada.

Apesar de ter feito os treinos não consegui ir à academia. Já estava preocupada com meu desempenho mas resolvi relaxar e aproveitar. Melhor fazer a prova mal feita do que não fazer.

Obviamente, com tanta precisão minha e da minha amiga, fomos as primeiras a chegar e o estacionamento ainda estava fechado. Isto porque convenci a colega a chegar um pouco mais tarde.

Descobri que ela é pior que eu. Queria chegar 5:30, conforme a programação do evento informava a abertura do estacionamento. Isso seria uma hora antes da abertura da barraca de chips.

Meus Deus, pensei. Vamos ficar dormindo no carro.  Tinha chovido a noite inteira e o frio estava intenso. Imaginem a cena. Duas neuróticas com horário, vestidas a caráter, numa rua escura esperando o estacionamento abrir.

Uma imensidão de estacionamento com vagas à vontade se abria na nossa frente. Corri pro banheiro do shopping, pois a oportunidade era única. Sentir vontade de fazer xixi no meio da corrida é uma das neuroses que tenho.

Neurose do banheiro

Preciso ir ao banheiro antes, quantas vezes for possível. Isso sem falar do “numero 2”. Esse eu nem gosto de pensar. Prefiro abandonar a prova a ficar desesperada com dor de barriga.

Já ouvi histórias terríveis que  amedrontam meu sono em véspera de prova. Mas confesso que entrei em treinamento uma semana antes, simulando horário de acordar para  ensinar meu intestino a hora precisa de funcionar. Deu certo.

Também deu certo aprender a quantidade de liquido exata que posso beber antes da prova para evitar o transtorno da vontade de fazer xixi no meio da corrida.

Saindo da área do shopping nos deparamos com o céu nublado e carregado anunciando uma bela chuva. A movimentação da corrida era intensa. Gente chegando, barracas de guarda volume, barracas de assessorias, barraca de patrocinadores e obviamente fui saber onde estavam os banheiros químicos.

São terríveis, mal projetados, são horrorosamente fétidos, mesmo limpos. Porém é a única solução para os neuróticos do xixi como eu.

Com tempo de sobra começamos a curtir o movimento. Fomos ao guarda volumes, buscamos nosso chip, tiramos muitas fotos e a chuva começou a cair.

Frio, vento e chuva foram os ingredientes daquele domingo.

O barulho do Rio Arrudas nervoso se misturava com  a frenética música de fundo que acelerava qualquer cidadão sonolento. E a adrenalina já começava a surgir no nosso sangue quando o locutor chamou para o aquecimento.

É a hora que o coração dispara. As pessoas vão chegando e se aglomerando. Cada um à sua moda. Relógios de corrida são os mais variados, os tênis vão dos mais simples aos mais coloridos e caros, óculos, viseiras, bonés, fones de ouvido, casacos corta vento… uma verdadeira indústria de apetrechos para corrida.

A cena é cômica e ao mesmo tempo tensa. Nessa hora sempre penso no gado confinado. Eu era a própria vaca confinada e acima do peso saindo pasto afora.

A prova

Nesta hora a buzina tocou e aquele farrancho de gente saiu correndo feito loucos.

Fui ficando pra trás, como de costume. Minha turma é a dos  iniciantes, muitos idosos, muitos acima do peso. Essa história de corrida é interessante, pelo menos pra mim,  porque você corre contra você mesma.

Se você não é profissional e não vai chegar em primeiro lugar, seu objetivo primeiro é completar o percurso. Depois, melhorar seu tempo, seu pace, sua performance.

Eu ainda estou tentando correr direto, sem intercalar com caminhadas. Uma luta verdadeira contra os maus hábitos do cigarro e do sedentarismo sem falar da genética de quadris largos e pernas grossas que não me ajudam nessa modalidade esportiva.

Ao longo da prova você luta tentando respirar de forma correta, tentando chegar no próximo km. Você vê os outros corredores lutando como você, cada um no seu tempo com a sua dificuldade.

É uma cena de superação coletiva. E isto te fortalece.  Quando a música estridente começa a chegar nos seus ouvidos você se anima. Enxergar a linha de chegada é saber que mais uma etapa foi vencida, que seus treinos não foram em vão.

Passar pelo cronômetro e ver um fotógrafo te focando é como encarnar o mais veloz e famoso corredor de maratona.

Nesta hora é permitido sonhar que está em Boston, NY ou Londres. É um momento único, só seu, só alegria porque você venceu sim, mesmo chegando em último lugar e estando em BH, ao lado do Rio Arrudas.

E aí você coloca aquela medalha no peito, inchado de orgulho de você mesmo.

Encontrei minha amiga já devidamente condecorada, bebendo e comendo aquele lanchinho básico de todo fim de corrida. Banana e maçã.

Os brindes

Uma chuva de brindes eram oferecidos aos corredores e nós duas não poderíamos deixar de aproveitar aquele momento tão engraçado.

Tive um acesso de riso quando vi minha amiga de boca cheia, depois de passar pela barraca de sanduiche natural, com os braços cheios de pequenos brindes de hidratante e enxaguante bucal , água de coco e todinho de whey protein.

O brinde camiseta da Unimed deixamos pra próxima pois a fila era enorme.

Enorme também era a fila da massagem. Isso sem falar das ótimas sacolas de plástico que ela ia pegando do chão à medida que as pessoas iam dispensando. – Darão um ótimo saco de lixo, disse ela.

E assim fomos para a chegada encontrar meu filho e irmã que iam terminar os 16k.  O vento e o frio só pioravam a sensação de  fome e cansaço.

Prontos para voltar pra casa procurei minha irmã pois iria dispensar a carona da minha amiga que mora do outro lado da cidade.

Qual não foi a minha surpresa quando ela disse que iria passar na loja da Track & Field para fazer umas comprinhas.

A Track & Field como patrocinadora oficial abriu a loja do shopping as 8 da manhã e estava dando 15% de desconto.

Como é que alguém, em sã consciência, vai fazer compras depois de correr na véspera 30k, acordar 5:30 da manhã e correr mais 16 k no frio.

Recuperando a minha carona, voltamos pra casa, eu, minha amiga e meu filho que além de estar “vencido” e com lábio roxo de frio, só falava da minha mania de horário e da corrida que fizemos mês passado quando chegamos em cima da hora  e eu só pude fazer xixi 7 vezes e não 16. Mas essa é outra história.

Mais uma vez agradeço a minha amiga pelas gargalhadas, pela companhia, pela carona e pelos momentos divertidos.

 

Que venham outras corridas!

 

Para conhecer um pouco mais da Miryam Haas clique aqui!

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